As informações geradas pelos avanços da genética podem abalar alguns
dos valores mais importantes da sociedade. Com isso, torna-se necessária
a reflexão sobre dilemas e questionamentos éticos criados pelos avanços
na área, como a possibilidade de análise do genoma humano a um custo
cada vez mais acessível.
É o que pretende o livro GenÉtica: Escolhas que nossos avós não faziam,
escrito pela geneticista Mayana Zatz – coordenadora do Centro de
Estudos do Genoma Humano, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão
(CEPID) da FAPESP –, lançado na semana passada na capital paulista.
“Acredito que as questões éticas que descrevo no livro serão cada vez mais relevantes para toda a população”, disse a autora à Agência FAPESP.
A obra, cuja ideia surgiu de um bate-papo entre ela e o médico Drauzio
Varella, reúne alguns dos conflitos vivenciados pela cientista e que
levantam percalços legais e éticos decorrentes da genética.
“Cada vez mais é possível descobrir algo com o DNA. E o que é feito a
partir dessa informação pode, ou não, ser benéfico. Há um vazio legal
em diversas questões da genética, cuja discussão é importante”,
ressaltou.
GenÉtica é voltado tanto para especialistas que atuam nas
áreas de genética e bioética como ao público geral. Cada capítulo
descreve uma nova situação, que tem por objetivo levar o leitor a
refletir sobre o uso da informação genética e seus limites.
Ao todo, são 13 capítulos que abordam temas com questões conceituais
que dificultam a aplicação de normas, como os princípios da privacidade e
da confidencialidade, a escolha seletiva de embriões, a clonagem humana
e os testes de DNA.
“As pessoas têm a impressão de que, para estudar o DNA, é preciso
coletar o sangue. Mas deixamos nosso DNA por todo lado, como, por
exemplo, no copo e nos talheres que usamos. A questão é: a quem pertence
esse DNA?”, disse Zatz.
No livro, a cientista cita como exemplo o caso do menino conhecido
como Pedrinho, sequestrado em Brasília na maternidade. Na mesma época em
que o caso veio à tona, suspeitou-se que Roberta, sua suposta irmã,
também pudesse ter sido sequestrada por Vilma, mãe adotiva do menino.
“Porém, ao prestar depoimento na polícia, Roberta – que não queria
saber se Vilma era ou não sua mãe verdadeira – descartou restos de
cigarro. A partir da análise daquele material foi possível fazer o exame
de DNA e confirmar que ela também não era a filha biológica de Vilma.”
“E o direito dela de não querer saber? Vários juristas dizem que isso
é perfeitamente legal, que aquele DNA não lhe pertencia mais”,
ressaltou Zatz.
A geneticista também chama a atenção para o debate ético sobre a
identificação precoce de genes que aumentam a predisposição para doenças
– entre as quais certos tipos de câncer, hipertensão e males cardíacos –
e os impactos da seleção do sexo em larga escala, como na China e na
Índia, onde a proporção de homens é maior que a de mulheres.
“Hoje discutimos sobre isso. Mas, em um futuro próximo, os casais
poderão escolher uma criança com olhos de determinada cor, habilidades
para esportes ou mais inteligente”, disse.
A obra conta também com uma seção bibliográfica, para quem desejar se
aprofundar nos temas abordados, e outra com explicações sobre os termos
técnicos citados nos textos.
“O livro é para as pessoas notarem o que está acontecendo. Essa
provocação é importante para mostrar a realidade, pois o que se fala na
teoria é muito bonito, mas na prática a teoria é outra”, afirmou.
GenÉtica: Escolhas que nossos avós não faziam
Autora: Mayana Zatz
Lançamento: 2011
Preço: R$ 29,90
Páginas: 202
Mais informações: http://globolivros.globo.com
Autora: Mayana Zatz
Lançamento: 2011
Preço: R$ 29,90
Páginas: 202
Mais informações: http://globolivros.globo.com
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