Ciência orientada por dados. Na avaliação de Yan Xu, gerente de
programas de pesquisas da Microsoft Research, esse novo paradigma tem
ganhado espaço na pesquisa científica de ponta.
A internet e demais plataformas computacionais dispõem atualmente de
uma enorme quantidade de dados que guardam uma ciência ainda não
conhecida. “Quarto Paradigma” é o nome dado à produção científica gerada
a partir da investigação desses dados preexistentes e produzidos por
terceiros.
Xu participou da São Paulo School of Advanced Science on e-Science for Bioenergy Research (SPSAS e-SciBioenergy), promovida em outubro pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), com apoio da FAPESP por meio da modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA).
Uma tendência discutida na Escola foi o uso de sistemas
computacionais complexos em estudos que simulam fenômenos científicos em
larga escala a partir de grandes volumes de dados.
Foram apresentadas simulações sobre o avanço da infecção de gripe
aviária na população norte-americana, a incidência de terremotos em todo
o planeta nos últimos anos, entre outros.
“Um grande desejo da comunidade científica mundial é dispor de
tecnologia suficiente para fazer previsões acuradas e em tempo real de
fenômenos distintos e ser capaz de propor respostas adequadas a esses
acontecimentos”, disse Xu.
Outro destaque da SPSAS e-SciBioenergy foi a apresentação do diretor
do National Center for Supercomputing Applications (NCSA) da
Universidade de Illinois, Thom Dunning. O NCSA administra o Blue Waters, um dos três maiores complexos de computação intensiva aplicada à ciência dos Estados Unidos.
O Blue Waters custou US$ 170 milhões e outros US$ 26 milhões são
investidos anualmente na sua operação – sendo US$ 13 milhões só para
gastos com eletricidade. Grande parte desse custo é financiada por
agências federais como a National Science Foundation (NSF) e o
escritório científico do Departament of Energy (DOE).
Dunning falou que tem aumentado o interesse de companhias do setor
privado no Blue Waters. Segundo normas, essas podem ocupar até 5% do
tempo de uso anual do sistema.
“Empresas têm nos procurado não apenas para melhorar seus produtos
com a ajuda da computação de alta performance, mas também para minimizar
impactos ambientais. Uma empresa do setor de produtos de consumo, por
exemplo, desenvolve um projeto para redesenhar embalagens plásticas para
os seus produtos. Eles buscam algo resistente e que ao mesmo tempo
utilize o mínimo possível de plástico em sua composição. Também
trabalham conosco produtores de aviões, motores, máquinas agrícolas e
outras”, disse.
De acordo com o pesquisador, o próximo passo desse tipo de cooperação
é levar o uso de computação intensiva dos projetos de grandes empresas
para os fornecedores-chave da cadeia produtiva dessas companhias.
Palestrantes presentes na SPSAS e-SciBioenergy destacaram a
preocupação com a falta de mão de obra especializada em projetos de
e-Science. Segundo eles, o aumento de projetos nessa área tem elevado a
disputa por profissionais com sofisticada expertise em sistemas
computacionais que lidam com grandes volumes de dados, análise e
visualização dessas informações.
Para minimizar essa situação nos Estados Unidos foi criada, na Universidade de Illinois, a Virtual School of Computational Science and Engineering.
A iniciativa já treinou mais de 700 alunos de pós-graduação nos últimos
anos em tópicos que não costumam ser abordados em cursos regulares,
como computação heterogênea e programação em escala peta (dos
quatrilhões de bytes).
No Brasil, duas importantes iniciativas começam a ganhar forma nessa
área. Uma delas, de acordo com Roberto Cesar Junior, pesquisador do
Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e da
Universidade de São Paulo (USP), é a aprovação de um projeto sobre
métodos de e-Science pelo Programa de Apoio a Núcleos de Excelência
(Pronex), da FAPESP e do CNPq.
Em contrapartida a esse projeto, foi criado o Núcleo de Pesquisa em
e-Science, na USP, com foco nas áreas biológicas, médicas, ciências
agrárias e humanas. Segundo Cesar Junior, essas duas ações almejam
aumentar a massa crítica e redes de conhecimento na área, assim como
implantar uma infraestrutura para compartilhar serviços de e-Science em
rede.
Fonte: Agencia FAPESP
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