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Diversidade do genoma humano

28 novembro, 2006

A idéia de que o genoma de duas pessoas quaisquer é igual em 99,9% de sua composição acaba de ser oficialmente aposentada. Do ponto vista da genética, não somos tão idênticos quanto pensávamos. Cientistas confrontaram o código genético de centenas de indivíduos e descobriram diferenças significativas em até 12% dos 3 bilhões de pares de base (as famosas “letra químicas”) que compõem o genoma humano. Algumas pessoas têm cópias a mais ou a menos de certos genes e exibem grandes trechos de DNA repetidos ou apagados em seu genoma. A noção de que haveria um genoma humano padrão, que seria representativo de toda a espécie, não se sustenta mais.

Essa é a principal conclusão que se pode tirar de uma série de estudos publicados nesta semana nas revistas Nature, Nature Genetics e Genome Research. Um grupo formado por pesquisadores de cinco países apresentou um novo mapa do genoma humano destacando essas grandes diferenças que podem existir no material genético das pessoas. A equipe internacional analisou o genoma de 270 pessoas de origem européia, africana ou asiática e conseguir mapear cerca de 1500 variações no número de cópias de grandes seqüências de DNA conhecidas pela sigla CNV (do inglês copy-number variations). “Cada um de nós tem um padrão único de perdas e ganhos de trechos inteiros de DNA”, diz Dr Matthew Hurles, do Sanger Institute, da Inglaterra, um dos pesquisadores envolvidos nos estudos.

Os pesquisadores acreditam que essas grandes divergências resultam em diferentes níveis de expressão de certas proteínas, o que pode, no final das contas, explicar a heterogeneidade da espécie humana, estar por trás de características próprias a populações de diferentes etnias e ser a origem de muitas doenças.

Até recentemente, os geneticistas diziam que havia basicamente pequenas distinções entre o genoma de distintas pessoas, em geral alterações de uma “letra química”, chamadas tecnicamente de SNPs, que ocorriam em certas regiões do código genético. Agora os cientistas descobriam que as diferenças no genoma humano são de magnitude muito maior que os SNPs.

Em cada indivíduo analisado pelos autores dos novos trabalhos, foram encontradas cerca de 70 CNVs, cada uma com tamanho médio de 250.000 pares de bases. Alguns indivíduos, no entanto, exibiam trechos de até um milhão de pares de bases que simplesmente não existiam em outros. O grupo de pesquisadores também comparou dados dos dois grandes projetos internacionais de seqüenciamento do genoma humano, o público e o privado, bancado pela empresa Celera, em busca das tais CNVs.

Todos os cromossomos humanos apresentam CNVs e metade delas ocorre em regiões do genoma com genes previamente conhecidos. Os autores encontraram nessas regiões genes ligados a doenças como esquizofrenia, catarata, atrofia muscular espinhal, e arteriosclerose. Há algum tempo se sabe que diferenças no número de cópias dos genes de proteínas do sangue são responsáveis por doenças como a talassemia, um tipo de anemia genética.

Fontes:

O genoma humano é mais diverso do que se pensava. Revista Pesquisa Fapesp

Global variation in copy number in the human genome. Richard Redon et al. Nature 444, 444-454.

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