Pesquisadores conseguiram reprogramar células adultas da pele humana transformando-as em células pluripotentes que são capazes de se diferenciar em outros tecidos do corpo, como as células-tronco embrionárias, mas sem a destruição de embriões.
O trabalho do grupo de James Thomson, da Universidade de Wisconsin em Madison, nos Estados Unidos, terá resultados publicados na edição desta sexta-feira (23/11) da revista Science. O grupo coordenado por Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, no Japão, publicará seu estudo na edição de 30 de novembro da revista Cell.
De acordo com Thomson, que em 1998 foi o primeiro a isolar células-tronco embrionárias humanas, os trabalhos poderão mudar inteiramente o panorama das pesquisas com células-tronco, ao abrir a perspectiva de futuras terapias que contornem a discussão ética ligada ao uso de embriões.
Para fazer a reprogramação, os cientistas contaram com a ajuda de retrovírus para introduzir em fibroblastos (células do tecido conjuntivo) quatro genes ligados ao processo de especialização das células.
Segundo Stevens Rehen, professor do Departamento de Anatomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o feito é extraordinário e terá implicações decisivas na pesquisa científica, mas não significa que se possa deixar de lado a pesquisa com células-tronco embrionárias humanas.
“Os trabalhos abrem uma nova avenida para estudos na área e são um avanço fantástico em todos os aspectos. Mas é importante lembrar que eles só foram possíveis graças às pesquisas com células-tronco embrionárias e que ainda há um longo caminho para um hipotético uso terapêutico dessa técnica”, disse à Agência FAPESP.
A técnica já havia sido utilizada em 2006, com células de camundongos, pelo mesmo grupo japonês. Desde então equipes de diversos países tentavam reproduzi-la em humanos.
Segundo Rehen, o provável uso da técnica a médio prazo será a criação de um portfólio de células-tronco adultas com diversidade genética voltada para indivíduos de uma determinada população, visando ao uso no desenvolvimento de medicamentos sob medida.
“Certamente essa alternativa seria muito mais simples do que a produção de células pluripotentes a partir da clonagem terapêutica, mas ainda há muito o que ser aperfeiçoado”, afirmou.
Nos dois estudos, a geração das células-tronco pluripotentes teve baixa eficiência: de cada 1 milhão de células, apenas 200 puderam ser reprogramadas. Além disso, um dos genes utilizados nos estudos tem potencial cancerígeno e não há possibilidade de aplicação terapêutica segura enquanto não se descobrir como anular os retrovírus.
Acúmulo de conhecimento
Para a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, a possibilidade de utilizar a nova técnica para substituir as pesquisas com células-tronco embrionárias é exagerada.
“A importância da descoberta é que ela deverá abrir caminho para utilizar células adultas para diferenciação e estudo da expressão genética em diferentes tecidos”, disse Mayana. Mas, segundo ela, a técnica não poderia ser utilizada para terapia celular, porque depende da ativação de genes potencialmente cancerígenos.
“Além disso, os genes são introduzidos na célula com um retrovírus que pode se inserir em qualquer parte do genoma. O estudo foi feito in vitro e ninguém sabe como o vírus vai se comportar no organismo”, destacou.
Mas a pesquisa será importante também, segundo Mayana, para ajudar a comparar o comportamento das células pluripotentes induzidas com o das células-tronco embrionárias. “Poderemos também usar as células adultas para estudar pacientes com doenças genéticas. A técnica permitiria fazer isso de forma bem mais prática do que com a clonagem terapêutica, que é dificílima”, afirmou.
“Só esperamos que essa notícia não influencie os ministros do Supremo Tribunal Federal a votar contra a pesquisa com células-tronco embrionárias humana, pois isso seria um desastre”, destacou a pesquisadora.
Para Rehen, os trabalhos são resultados do acúmulo de conhecimento a partir da década de 1980 graças aos investimentos em pesquisas com as células-tronco embrionárias.
“Os trabalhos deverão alimentar ainda mais a polêmica entre os grupos favoráveis e contrários aos estudos com células-tronco embrionárias. Os grupos contrários podem até usá-lo como argumento, mas os próprios pesquisadores japoneses destacaram que conseguiram os resultados graças à sofisticação científica adquirida com estudos de células embrionárias”, disse.
Fonte:
Agencia FAPESP
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Celulas-tronco sem embriao
25 novembro, 2007Postado por Admin às 20:35
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