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Bacterias a 3 mil metros de profundidade

25 outubro, 2006

Bactérias são descobertas a quase 3 mil metros abaixo da superfície. Totalmente independentes da energia solar, organismos existem há milhões de anos e dependem de minerais radioativos para sobreviver.

Definir quais são as condições básicas para manter a vida na Terra é uma tarefa cada vez mais complexa. Há tempos se sabe da existência de organismos extremófilos, capazes de sobreviver em ambientes inóspitos e improváveis – pelo menos aos humanos. Mas uma nova descoberta acaba de levar a vida um pouco mais longe. No caso, para baixo.

Um grupo formado por pesquisadores de diversos países encontrou, em escavações em uma mina de ouro na África do Sul, bactérias vivendo em rochas a 2,8 mil metros de profundidade. Se parasse por aqui já seria uma notável descoberta, mas a história continua.

Trata-se da primeira comunidade microbial até hoje descoberta que depende exclusivamente de hidrogênio e enxofre produzido geologicamente. Mais: os organismos encontrados, pertencentes ao filo Firmicutes, são completamente independentes da energia derivada da luz solar. De onde retiram energia para se manter? Da conversão de moléculas de água por minerais radioativos, como urânio e tório.

Se esse cenário parece estranho às formas de vida superficiais ou aquáticas, o mesmo não ocorre para as bactérias agora descobertas. Segundo o estudo, publicado na edição de 20 de outubro da revista Science, os microrganismos estão no interior do planeta há dezenas de milhões de anos.

“São bactérias realmente únicas, no mais puro sentido da palavra”, disse Li-Hung Lin, da Universidade Nacional de Taiwan, primeiro autor do artigo. “Essa descoberta mostra que conhecemos surpreendentemente muito pouco a respeito da origem, da evolução e dos limites da vida na Terra”, disse outra autora, Lisa Pratt, da Universidade de Indiana, em comunicado da instituição.

A descoberta tem diversas implicações. Uma imediata é a expansão da bioesfera terrestre, ou seja, da camada em que ocorre vida no planeta. Outra é que se formas de vida encontram maneiras de sobreviver em situações tão extremas na Terra, o mesmo – ou ainda mais – poderia ocorrer em outros planetas, como Marte.

Em 1996, um estudo apontou a existência de bactérias no meteorito ALH84001, encontrado 12 anos antes na Antártica e que teria sido lançado de Marte por um impacto de outro meteorito no planeta. Também publicado na Science, o artigo escrito por David McKay, da Nasa, e colaboradores provocou muitas polêmicas. Apesar de os autores serem categóricos em afirmar que não se tratam de organismos terrestres, outros apontaram que o meteorito teria sido contaminado na Terra.

O artigo Long-term sustainability of a high-energy, low-diversity crustal biome, de L-H. Lin e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

Fonte:
Agência FAPESP

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