O aparecimento de metástases tem contribuição fundamental do fator
de crescimento do endotélio vascular (VEGF-A, na sigla em inglês)
produzido por células do estroma positivas para o marcador S100A4, de
acordo com um novo estudo feito por brasileiros e norte-americanos. O
estroma é o tecido conectivo que dá sustentação às células funcionais
dos órgãos.
De acordo com os autores, o estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences
poderá ter impacto clínico importante, já que pacientes positivos para o
marcador S100A4 nas células – em tese mais propensos à metástase –
poderão ser identificados e se beneficiar de drogas anti-VEGF
existentes.
O trabalho teve a participação de Ricardo Renzo Brentani e de Rafael
Malagoli Rocha, ambos do Departamento de Oncologia do Hospital A.C.
Camargo – Brentani é diretor-presidente da FAPESP. Os outros autores são
de instituições norte-americanas: da Escola de Medicina de Harvard, do
Departamento de Patologia do Hospital Rhode Island, da Universidade
Vanderbilt, em Nashville, e da Divisão de Ciências e Tecnologia da Saúde
Harvard–Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
O VEGF-A promove a angiogênese – o crescimento de novos vasos
sanguíneos – na região tumoral. Esses vasos alimentam o tumor e ao mesmo
tempo propiciam e facilitam o aparecimento da metástase.
“Verificamos que existe o aparecimento do VEGF-A em células do estroma – que basicamente são fibroblastos – que compõem a matriz intracelular. Por isso, elas têm um papel central na colonização metastática. Mas o mais importante é que os fibroblastos responsáveis pela produção do VEGF-A podem ser positivos para o marcador S100A4”, disse Rocha à Agência FAPESP.
Segundo ele, existem drogas que bloqueiam a ação do VEGF, como o
Bevacizumab, que obteve sucesso no tratamento de pacientes com doenças
metastáticas, aumentando a sobrevida. “Imaginamos que os pacientes com
S100A4 no estroma podem se beneficiar com essas terapias anti-VEGF”,
afirmou.
Rocha e Brentani estabeleceram uma parceria com o grupo liderado por
Radhu Kalluri, do Centro Médico Beth Israel Deaconess, hospital
universitário da Faculdade de Medicina de Harvard. O estudo publicado na
PNAS é resultado dessa cooperação.
A parte experimental da pesquisa foi realizada em Harvard, em dois
grupos de camundongos: um grupo de animais transgênicos que não
expressam a proteína S100A4 e um grupo de controle capaz de expressá-la.
“Com isso, conseguimos observar as diferenças entre os dois grupos
quanto à produção de VGEF e quanto ao aparecimento de vasos e
metástases”, disse Rocha.
No Laboratório de Anatomia Patológica do Hospital A.C. Camargo, os cientistas fizeram a parte molecular in situ
do estudo, realizando testes imunohistoquímicos para identificar a
quantidade da proteína S100A4 expressa nos fibroblastos estromais.
“A partir daí conseguíamos prever quais pacientes produziriam mais vasos e estariam mais suscetíveis à metástase, caso não fossem tratados”, afirmou o cientista.
O estudo demonstrou, segundo Rocha, que os fibroblastos positivos
para S100A4 têm papel crucial na tarefa de fornecer “solo fértil” para a
colonização metastática – que de acordo com ele é um passo fundamental
da cascata metastática.
O artigo VEGF-A and Tenascin-C produced by S100A4+ stromal cells are important for metastatic colonization (doi/10.1073/pnas.1109493108), de Radhu Kalluri e outros, pode ser lido por assinantes da PNAS em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.1109493108.
Fonte: Agencia FAPESP
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