A juventude da ciência brasileira, a burocracia e deficiências no
sistema educacional são fatores que podem ajudar a explicar por que o
país não tem um cientista ganhador do prêmio Nobel. A análise foi feita
por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, durante
a 4ª Semana Abril do Conhecimento, na terça-feira (13/09) na sede da
Editora Abril, em São Paulo.
O encontro, mediado por Mayana Zatz, coordenadora do Centro de
Estudos do Genoma Humano, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão
(CEPID) da FAPESP, teve como objetivo discutir cenários e oportunidades
em ciência e tecnologia no Brasil e a questão “Quando teremos um Prêmio
Nobel?” como um dos temas principais.
O debate contou com a participação do professor Rodrigo do Tocantins
Calado, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), e do biólogo
Fernando Reinach, membro do conselho de administração do Fundo Pitanga
de capital de risco.
“Há muitos elementos na vida brasileira que precisamos melhorar para
podermos falar em Nobel. Não é um cientista sozinho que faz a ciência de
um país”, disse Brito Cruz.
“A pergunta que deveríamos fazer é ‘como a ciência pode ajudar mais
os brasileiros a ter uma vida melhor, com ou sem o Nobel’, pois o
objetivo de fazer ciência boa em um país não é ganhar o prêmio, é fazer o
país ser melhor. Se fizermos isso direito, aparecerá um Nobel”,
ressaltou.
Além da melhora da qualidade de vida e da educação, Reinach destacou a
necessidade de calcular o rendimento científico considerando a
competitividade das empresas brasileiras.
“A medida de sucesso de um país deveria ser essa, e o prêmio Nobel, a
cereja do bolo. O Nobel tem uma característica muito peculiar: prevê
algo totalmente novo e não obrigatoriamente traz benefícios para a
população”, disse.
Reinach citou como exemplo o trabalho da bióloga Johanna Döbereiner
(1924-2000) com o desenvolvimento de variedade de sementes de soja
adaptadas ao clima tropical.
“Isso permitiu que a soja criasse toda uma riqueza
agrícola-industrial no Centro-Oeste brasileiro. Não é um fato inovador,
mas provavelmente é possível contabilizar a riqueza gerada por ela”,
disse.
Calado, que voltou recentemente ao Brasil após uma temporada de nove
anos nos Estados Unidos, disse que uma das principais dificuldades
encontradas no país para o avanço da pesquisa é a burocracia para a
importação de materiais e equipamentos. “Isso atrapalha muito a nossa
competitividade”, afirmou.
Segundo ele, atualmente grande parte dos serviços administrativos
ainda é realizada pelo próprio cientista, em vez de funcionários
específicos para essa função, contratados pelas instituições acadêmicas e
de pesquisa, como é comum em diversos países em que a ciência está mais
desenvolvida.
“É preciso que as universidades brasileiras garantam um escudo que
proteja os pesquisadores da burocracia. O erro é ele fazer um serviço
que não é de pesquisador. O tempo do pesquisador deve ser usado para
fazer ciência e escrever papers”, destacou Brito Cruz.
Para atender a essa demanda da comunidade científica no Estado de São
Paulo, a FAPESP implantou um programa piloto de treinamento para as
equipes dos Escritórios de Apoio Institucional ao Pesquisador (EAIP).
As EAIPs ampliam a atuação dos pontos de apoio, que a FAPESP mantém
distribuídos por diversas universidades e instituições de ensino
superior e de pesquisa no Estado de São Paulo e que atuam como
facilitadores no envio de documentação à FAPESP, além de orientar
bolsistas e pesquisadores nos procedimentos envolvendo a Fundação.
Fonte: Agencia FAPESP
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